quinta-feira, 23 de maio de 2013

Poema: "Favelado" de Daniel Tavares






"Favelado"


Pego o ônibus lotado
Rumo à zona central
Rotina de um favelado
Em minha vida sou
O personagem principal
Esperança que não acabou
E jamais irá acabar

Sou da zona sul
Quero ser alguém
Olhos vermelhos, céu azul
Quero ir além
Um brinde
À falta de motivação
Um trago
À descriminalização
Rumo ao bom
E modesto emprego
Dedicação é meu dom
Meu eterno apego

Muito mudou este país
Porém sinto
Como se fosse a raíz
De uma nação
De eterna cicatriz
Ganho pouco
Mas me sinto bem
Por isso me acham louco
Mas de minha consciência
Nunca fui refém

Ao sair de casa
Minha filha pediu
Que trouxesse para ela
Um pequeno doce
Abri minha carteira
O dinheiro acabou-se
Sem eira nem beira
Minha face entristeceu-se
Mas a cidade é bela
E nela interfiro
A maior do sul da esfera
E no bairro do Bom Retiro
Trabalho em função dela
Minha preciosa
Fruto de um grande amor
De carinho
E de enxoval rosa

Suor aparente
Nunca andei armado
Assim sigo em frente
Dia após dia
Mais um passo dado
Amor à vida
Apesar de seu indigno açoite
Sou favelado
Guerreiro de dia
Até que seja tarde
Sou favelado
Por minha filha
Por minha cultura
Sem alarde
Sem com o próximo
Ser covarde
Meu barraco é uma ilha
Neste eterno mar
Mar de desigualdade
E também de maldade...


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