Juelson aka Nucho, membro dos Tripla Aliança (Nucho, Maximus & Luso) é um Angolano que actualmente reside em Portugal (Miratejo). Podes conhecer um pouco mais sobre este Mc nesta entrevista. O seu Ep Páginas da Vida está disponivel para download (fim da entrevista).
Andreia - Conta-nos como começaste a tua carreira e quais ou quem foram as tuas influências.
Desde os 8 anos, que vivo no Miratejo(o berço), como sabes é um bairro onde sempre se viveu a cultura hip hop duma maneira intensa, cresci a ouvir Mira$quad, THC, 3 Ilegais, Black Company, como os mais velhos ( Bambino,Pump g, Psy-k,Jhaid e Sunrise) eram os meus ídolos, então ficava na rua a fazer freestyle. Depois no secundário, conheci o Luso e o Maximus e formamos a 3pla Aliança, aí é que comecei mais a sério, pronto agora música é paixão.
Andreia - Como artista, o que trazes de novo à música e o que tens de especial para que as pessoas te oiçam?
Essa pergunta é difícil, tento sempre trazer versatilidade, ou seja, fazer de tudo um pouco, procurar novas melodias, temas, mas acima de tudo tento sempre trazer sentimento. Ser o mais fiel possível aos meus sentimentos. Não tenho medo de arriscar, gosto de inovar e testar-me. O que eu tento sempre trazer, mostrar e transmitir é aquela sensação « OH !! Nem parece o Nucho do outro som, surpreendeu-me», ou seja gosto de fazer o que ninguém está a espera.
Andreia - Porque escolheste o titulo ''Paginas da Vida'' para o teu Ep?
Fácil, porque para mim a vida é um livro, onde cada capítulo é um bocado de nós, experiências, vivências, bons e maus momentos. Na maioria dos sons da EP, descrevo o que vivo, o que sinto, o que vejo, por isso cada som é uma página/capítulo deste livro chamado vida.
Andreia - Que tipo de mensagens tentas passar na tua música?
Posso parecer um pouco repetitivo, mas apenas posso afirmar que tento transmitir sentimentos verdadeiros, através das minha vivências tento dar conselhos á juventude, principalmente, para pensarem um pouco mais no modo de vida que levam. Gosto sempre de transmitir paz, amor e principalmente boa energia e esperança.
Andreia - Na musica 'Meu Bairro é Triste' falas sobre hoje em dia os jovens iludirem-se muito facilmente com o estilo de vida ''gangsta'', dinheiro facil, etc... Achas que muitos jovens entram nessa vida mesmo sem terem a necessidade de o fazer?
Digo mais, afirmo que a maioria da juventude entra nesse estilo de vida por puro comodismo ou preguiça. Vivemos num país onde pouca gente passa fome, onde há possibilidade de estudarmos e onde para quem realmente quer há trabalho. É difícil, sim é, mas com perseverança, organização e objectivos bem traçados conseguimos enveredar por um caminho mais «correcto». Desde, os 10 que vivo sem os meus pais, passei por muitas dificuldades e nem por isso sou um «thug». Vim de África, vi pessoas com menos de 1/1000 de oportunidades que nós temos aqui e lá vejo a juventude trabalhadora, com uma mentalidade diferente. Tentamos sempre nos vitimizar, culpando o sistema, mas por vezes os culpados somos nós.
Os exemplos que vejo, são de miúdos que vêm de famílias onde os pais são trabalhadores, sempre meteram comida na mesa, sempre tiveram para vestir, nunca faltou nada, têm documentos, mas não querem fazer nada produtivo. Enerva-me quando vejo tanta falta de consideração e de ambição na vida. Fixei uma frase que um dia me disseram «Hoje és filho, amanhã serás pai e depois serás avô». Resumindo, temos que pensar que não vamos ser jovens para sempre, temos que tentar construir algo para o futuro, por nós ou pelos nossos.
Andreia - Arriscaste fazer uma faixa RnB. Tentaste fazer faixas diferentes umas das outras de forma a apresentar um trabalho diversificado para agradar a todo o tipo de publico?
Exactamente, acima de tudo sou um apaixonado por música, raramente oiço rap confesso-te (só quando me cativa muito), oiço mais r&b, kizomba,semba, soul,kuduro etc etc ...por isso «bebo» um pouco de todos estilos musicais. Arrisquei, porque achei que estava na altura de inovar, de me testar e claro agradar a vários géneros de ouvintes, quero que a minha música seja abrangente e que cada vez mais esteja ao alcance de novos públicos e faixas etárias.
Andreia - Que diferenças notas entre o HH Tuga e o HH Angolano?
A principal diferença, basicamente, é que aqui em Portugal gostam muito de seguir modas, não tentam inovar ou ser originais, arriscam pouco. Em Angola, vejo uma atitude mais profissional, mais organização. Preocupam-se mais em dar espectáculo, em serem versáteis.Aqui em Portugal há muita hipocrisia todos dizem que só fazem por «love», em Angola vêem o rap, como paixão, trabalho, profissão e consequentemente fonte de sustento.
O mercado angolano apesar de ser muito competitivo, é um mercado onde há mais «portas» abertas, mais hipóteses de novos talentos aparecerem. Há programas na televisão, na rádio e sessões em lugares conceituados, exclusivamente para novos talentos. Em Portugal o «rap game» está muito fechado, os eventos são sempre com as mesmas pessoas.
Andreia - Qual é para ti o maior álbum clássico da Tuga?
Acho que esta vai ser a resposta mais surpreende-te da entrevista. O álbum que mais me marcou no Hip Hop Tuga foi o do Kacetado «Ontem, hoje e amanhã». Uma bomba !! Tenho pena, ele não lançou mais nada a solo. Aguardo …
Andreia - Vives somente da música ou tens outra profissão?
Hahahaha esta pergunta foi muito engraçada … Não ganho nada, nem ganhei nada com a música até hoje. Só gastei e não foi pouco. E ainda censuram quem tenta recuperar o investimento, esta aí a principal diferença entre Portugal e Angola. Quanto a profissão, tirando os part-times, sou estudante de Gestão, no ISCTE-IUL.
Andreia - Neste momento quais são os teus principais objectivos a nível pessoal e profissional?
O meu principal objectivo e quase exclusivo, neste momento é licenciar-me em Gestão e depois decidir se vou tirar mestrado ou se vou trabalhar em full-time. Objectivo pessoal, quiçá criar condições para regressar a Angola.
Andreia - Deixa uma mensagem especial aos leitores do Black Vibe.
Pessoal nunca fechem os vossos horizontes, oiçam e façam todo tipo de música sem preconceitos. Não fujam a vossa identidade. Atitude positiva na vida é tudo. Há vários caminhos para felicidade.
