Dr. G: Dreams S.O.S porque?
S.O.S: Dreams porque quando comecei tudo resumia-se a sonhos, e para não me esquecer que os tinha de perseguir, adoptei DREAMS como nome; e S.O.S. já tem uma história maior: meu grande amigo e um dos meus “beat maker”, o OC Beatz, depois de descobrir o meu talento para escrever, (e nessa altura o hip hop Cabo-verdiano vivia uma fase critica, só com “beef” entre o Djedje, o Chandinho, os rapazes do novo reino e muitos outros rappers) começou a incentivar-me, dizendo que eu era a “salvação” para o nosso hip hop, e que através das minhas letras podíamos marcar a diferença. A partir dai começou a chamar-me S.O.S que significa “ save or soul”, e o nome ficou Dreams S.O.S.. no entanto, hoje em dia já só utilizo o S.O.S., pois grande parte dos meus sonhos se tornaram realidade.
Dr. G: Conta-nos um pouco do teu trajecto como MC
S.O.S: Comecei com 12 anos. Fui muito influenciado pelo “dilema” do Djedje. Foi depois de ouvi-lo que comecei a escrever, mas como é óbvio, de inicio as letras não tinham muito sentido. Lembro-me que o meu irmão gozava sempre comigo por causa delas, mas mesmo assim não parei de escrever. Continuei e ia mostrando minhas letras a outros rapazes, e com o tempo comecei a receber criticas cada vez mais positivas. O tempo foi passando e eu continuei escrevendo, mesmo sem ter uma oportunidade de pegar no microfone. Todos sabemos que em Cabo Verde não se apoia muito esse tipo de coisas, mesmo entre os que lutam para um melhor “hip hop kriolo”. É difícil estender-se as mãos para os que se encontram num patamar abaixo de nos, mas graças a Deus, eu tive a sorte de conhecer rapazes como o Jota, o OC Beatz e o Mikas (que é também um dos meus “beat maker” e o homem forte que esta por detrás do S.O.S; Meu sucesso é todo dele). Eles me apoiaram e me deram força para seguir em frente, e com eles tive a primeira oportunidade de gravar. De inicio fracassei porque faltava-me o “flow” para além de letras. Chegamos a pensar que o meu talento se resumia apenas á escrita, mas hoje agradeço a Deus por ter fracassado naquele momento. Hoje me dou conta que naquele momento não estava preparado. Minhas letras eram boas, mas também muito violentas e cheias de influências americanas; ainda não era um rapper consciente dos meus actos.
Depois disso, eu e os meus amigos acabamos por separar. O Jota e o OC hoje estão na América, o Mikas na Alemanha, e eu aqui na Bolívia, atrás do sonho de ser um profissional na área da Ciencia Politica, sem nunca me ter esquecido do anseio de conquistar o “meu lugar” no hip hop kriolo. Acabei por conhecer pessoas esplêndidas que deram e continuam a dar-me força para continuar, e falo em especial dos elementos do meu “crew” (los negritos família).
Aqui fui pela primeira vez a um estúdio e “descarreguei” 12 anos de talento oprimido. Lancei o meu “MIXTAPE” (Sangui Sor & Lagrima) e hoje sou um rapper consciente de todos os meus actos. Sei que já conquistei meu lugar no hip hop kriolo, mas não vou parar por aqui pois ainda tenho muito para dar.
Dr. G: Ao ver este imenso mundo do hip hop com passagens underground até “niggaz so fly in the sky” como posicionas o movimento hip hop kriolo actual?
S.O.S: na minha opinião o hip hop atravessa o seu melhor momento, mas, como sabemos, é um movimento que em toda a parte se sente afectado pela divergência entre rappers, e o hip hop kriolo não é excepção. O “beef” entre os nossos rappers nos afectam muito; mas também não podemos deixar de ver que quando querem, fazem grandes trabalhos. Rapazes como o Pex, Rapaz 100 Juiz, Buddha, Stars, Penhx… levam o nosso hip hop por um bom caminho. Há outros, cujos nomes não interessa dizer, que fazem com que o nosso hip hop perca prestigio. Mas é assim a vida…. Em tudo há coisas boas e más….
Dr. G: Para ti o que precisa ser melhorado no cenário hip hop kriolo. E os aspectos positivos do movimento. Como seria então o balanço geral.
S.O.S: penso que o nosso hip hop precisa de mais união entre os rappers. Continuo a dizer que o nosso hip hop atravessa um grande momento, mas apenas a nível individual. Precisamos de mais força para podermos construir uma base para o nosso hip hop, dando-lhe um peso, tal como qualquer outro género musical em Cabo Verde. Podíamos assim “adopta-lo” como um “novo filho” da nossa cultura musical.
Temos também muitos pontos positivos a focar; como exemplo, pessoas como tu, Dr.G e como o Buddha, que arregaçam as mangas para trabalhar para um melhor hip hop kriolo…
Para finalizar repito: estamos no caminho certo. Estamos a plantar sementes para que a geração futura venha a colher frutos. O nosso hip hop um dia vencerá…
Dr. G: Sangui Sor & Lagrima nos lembra muitas coisas, como por exemplo: da escravidão, da luta contínua dos negros para sobreviver… o mixtape Sangui Sor & Lagrima o que retrata e significa para os que a sentem?
S.O.S: sei que esse nome trás essas recordações e sentimentos. Para mim não foi diferente: representa muitos anos de busca e de luta para chegar aonde estou hoje… Depois de gravar esse “mixtape” estive a conversar com algumas pessoas que ouviram o meu trabalho, e as reacções foram muito parecidas: todos sentem-se “identificados” com as minhas mensagens, pois elas retratam vidas, experiencias comuns; coisas como sonhos, coragem, perdas, solidão, esperança…. E todos acreditam que nessa caminhada um guerreiro sempre triunfa; ele alcança sempre a vitória com base no SANGUE, no SUOR e nas LAGRIMAS. Dai o nome do meu “mixtape.
Dr. G: Quais são os projectos futuros
S.O.S: nesse exacto momento estou a trabalhar no meu próximo “mixtape”, que se vai chamar “ SAIDA DE EMERGENCIA” (EXIT), composto por 18 faixas, com beats do Mikax, e do OC, com a participação de MC’s Bolivianos, dos rapazes do meu “crew” LN Família e do meu “nigga” D-KING (futuro do nosso R&B crioulo que se encontra na China).
Estou a preparar-me para gravar um vídeo clip ainda esse ano, mas ainda não decide de qual música será.
Tenho um projecto ainda maior, mas que de momento só posso dizer que: se conseguir realiza-lo, será um passo enorme não só para o nosso hip hop kriolo, mas também para a musica em geral.
Dr. G: como esta sendo a reacção dos amantes do hip hop kriolo?
S.O.S: graças a Deus o “mixtape” foi bem aceite pelos amantes do hip hpo kriolo e não só… mesmo aqui na Bolívia teve uma boa aceitação, e fui convidado a participar em alguns eventos de hip hop. Mas, o que me deixou muito mais contente foi saber que meus pais gostaram do trabalho. Isso me fez perceber que a minha música toca não só o coração dos jovens, mas também dos mais “velhos”, e crianças. Fiquei mesmo muito satisfeito com o resultado desse meu primeiro “mixtape”.
Dr. G: O que significa hip hop e rap para ti?
S.O.S: hip hop para mim é mais do que um movimento urbano; é um estilo de vida, uma comunidade onde todos somos uma grande Família. E como acontece em todas as famílias, temos os nossos problemas, mas no fundo completamos uns aos outros e trabalhamos para um hip hop melhor, consciente e unido através dos seus 4 elementos: MC, GRAFITI, DJ, BRAKE.
Já o rap é algo mais pessoal; para mim o rap é uma ciência, e é por isso que o meu A.K.A. é “EL Cientifico”; porque para um rap ser perfeito, temos que colocar tudo na sua medida perfeita: letra e beat tem que se encaixar… eu por exemplo, conta as notas dos meus beats, para poder saber aonde faço os coros, aonde repar e aonde ficar calado… se não se estudar cada coisa detalhadamente, o som não sai perfeito… e por isso penso e acredito que o rap não pode ser outra coisa, senão uma ciência.
Dr. G: Para fechar agradeço a oportunidade concedida para a entrevista e desejo muita força e luz nessa carreira.
S.O.S: eu é que agradeço a oportunidade de falar um pouco sobre mim, sobre os meus projectos e compartilhar convosco as minhas ideias.
Obrigada pela força… one love pró nosso hip hop Kriolo, “halla” para todos os meus soldados: Mamuka, El Señor, Maestro, D.B Yow, Jay – mon, Mikax, Jotta, O.C e pa zona Paiol. peace
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