segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Entrevista Funkero, no embalo do Funk e do Rap




Funkero é um Mc Brasileiro nascido e criado na terra do Funk, Rio de Janeiro. Ao som do Rap, do Funk e do Ragga, conquistou o merecido respeito. Foi nas batalhas de Rap que ele conseguiu marcar o seu território, por causa das suas performances loucas e cheias de energia. Nesta entrevista ele fala do inicio de carreira, as motivações e sobre o polémico tema. Funk é rap?


Inicio...

Começo por te perguntar de onde surgiu o nome FUNKERO. Qual é a história que existe por trás desse apelido.

Então, eu pixava muro e assinava Funk, quando muleque. Depois que comecei a fazer rap, aumentei o nome e virou Funkero.


Como foi o teu começo no Funk e no Hip Hop. Que motivos te fizeram seguir estes estilos musicais?

No rap, meu primeiro contato foi na zoeira, uma festa que rolava na Lapa. Via sempre os caras na roda de Freestyle, um belo dia cismei de botar a cara também e tô fazendo isso desde esse dia. E o funk está presente na minha vida desde a infância, faz parte das minhas primeiras memórias. Escuto funk desde que eu nasci, sou "cria" do funk mesmo....


Monteiro Lobato e o seu livro "Reinações de Narizinho", foi uma grande influência para começares a escrever letras.

Toda a literatura que me foi mostrada, foi influência viva na minha alma e na minha forma de escrever... Os livros me deram a capacidade de sonhar e de pensar criticamente sobre as coisas que aconteceram comigo e à minha volta...


Na musica Selva Urbana cantas "tou vivendo tranquilão, sem ter que pegar mais num revolver"..."tive de perder a minha mente pra aprender a usar a minha mente". Pode dizer-se que antes de seres mc tiveste uma vida que a maioria das pessoas das favelas tem (droga, violencia)? Era essa a tua realidade antes de seres o Mc Funkero?

Minha realidade era a da maioria de brasileiros: jovem, pobre, sem dinheiro e cheio de disposição. Cheio de ódio na mente também... e no olho do furacão...

Muitas vezes a música é a salvação de muitos jovens nas periferias. Foi isso que aconteceu contigo? O rap afastou-te do crime?

Os livros e o amor me livraram do mal. Não sei se me afastaram do crime, de repente o senso critico me tornou mais criminoso ainda, vai saber...

O reconhecimento...

A Liga de Mcs, da qual foste finalista, trouxe-te alguma exposição na midia e na tv. Sentes que foi só a partir daí que começaram a reconhecer o teu trabalho?

Sim, a partir da Liga as pessoas começaram a perguntar quem é esse baixinho que fala a vera e vem mordendo igual um bulldog nas batalhas. A partir das batalhas eu percebi também que se não começasse a produzir algo relevante, iria ficar reduzido a fazer batalhas pra sempre. Foi a hora que eu decidi parar de batalhar... Foi o fim do ciclo..


O Longa Metragem LAPA, achas que foi importante para o Brasil fazerem este documentário e conhecer um pouco mais da cultura e das influências do Hip Hop ?

Todo documentário, toda reportagem, todo curta, tudo é importante. Fortalece a cultura e dá mais visibilidade a quem faz, pra que continue fazendo.


A MixTape Poesia Marginal foi muito bem recebida pelas pessoas. Retrata a vida nas ruas de uma forma muito real, ao som do funk, do ragga e do rap. Para quem nunca ouviu essa mixtape como definirias?

Eu definiria a Mixtape Poesia Marginal como um rolé pelas comunidades do Rio, com todos seus prós e contras, e suas luzes e sombras.


O Funk...

Como surgiu o teu interesse pelo Funk?

O funk nas comunidades do Rio é um assunto meio tribal, místico mesmo. Não tem como ser do Rio e não se envolver. É a minha influência musical básica.


O Funk é muito relacionado ao sexo, desrespeito à mulher, letras que glorificam o crime. Qual é a tua opinião sobre isso?


As letras são reflexo da sociedade. Letras sexuais e violentas são um reflexo do Brasil sexual e violento.

O Funk, como o rap ou o dancehall, tem uma vertente mais politizada, mas não tem a mesma dimensão do Funk vulgar e sem conteúdo nas letras. Achas que é por isso que muitos entendem mal a mensagem do Funk?

Quem não entende a mensagem do funk, não conhece DUDA DO BOREL, MR CATRA, MENOR DO CHAPA, SAPAO, FRANK,S UEL E AMARO, CLAUDINHO E BUCHECHA, CIDINHO E DOCA, MC MARCINHO e tantos outros que foram a trilha sonora da minha vida e de tantos outros jovens do Brasil....

Muitos dentro da comunidade HipHop não aceitam o Funk como sendo parte da cultura. O Funk é HipHop/Rap?

COM CERTEZA ABSOLUTA. Eu, com 5 anos ouvia, gigolo Tony num vinil da furacão, amando aquele som, sem saber que o que eu ouvia com o nome de funk, era o Rap de Miami. É louco, MC SHY – D, FREESTYLE. O rap chegou no Rio como “FUNK”...

Afrika Bambata, durante uma visita ao Brasil disse que “A batida do funk é hip-hop, o hip-hop do Brasil tem que agregar o funk como quinto elemento”. Após esta declaração qual foi a reacção no meio HipHop? Trouxe mais reconhecimento ao movimento Funk ou mais polémica?

Essa questão sempre foi polémica. Quem é purista, vai ter medo do novo, não tem jeito. Mas tem gente, como eu, por exemplo, que tá tentando aproximar essas vertentes tão diferentes e semelhantes ao mesmo tempo.

Vitor Hugo...

Existe diferença entre o cantor Funkero e o Vitor Hugo?

Sim.o Funkero é mais maluco (rsrsrs)...

Como é um dia normal na vida do Funkero?

Família, rap, livros, filmes. É com isso que gasto meu tempo...

Já conseguiste firmar o teu nome no Funk e no HipHop. Quais são os teus próximos objectivos em 2009 na música?

2010 quero fazer meu primeiro disco. Eu já tô gravando e vai se chamar Em Carne Viva

Já conseguiste concretizar todos os sonhos, na tua vida e na tua carreira? Qual é a tua próxima meta?

Nãooo. Tá longe ainda. Minha meta é criar bem meus muleks e fazer boa música, sempre. Quem sabe me dedicar mais à literatura no futuro. É so uma vontade por enquanto, mas nunca se sabe, né???

Gostaria que deixasses uma mensagem aos leitores do meu blog, em especial àqueles que não conhecem o Funkero e porquê deveriam ouvir as tuas músicas.

Bom, quem não conhece o Funkero, deve conhecer e provar do clima quente e sangue frio do sudeste do Brasil, pra sentir um pouco da alma carioca e pirar com doses extravagantes de estilo livre. Tudo no melhor estilo Cafecrime. Obrigado a todos do planeta que apoiam a cultura de rua e tornam a nossa arte possível.

Entrevista feita por Andreia Quaresma do Blog Curto Circuito


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