quarta-feira, 25 de novembro de 2009

LUSOHIPHOP ENTREVISTA FLY SKUAD



Mais uma entrevista elaborada pela já conhecida Miss Djei e desta vez fui eu que vesti a pele de repórter. O entrevistado é nada mais nada menos que Fly Skuad, mc underground do grupo Caixa de Pandora, dotado de uma capacidade de improviso excepcional (já presenciei) e que este ano lançou a mixtape Directamente do Underground. Curtam a cena, esse dred não tem "papas na língua"...


Lusohiphop: Quem é Fly Skuad e porquê este nome?


Fly Skuad: Fly Skuad é um mc proveniente do movimento underground e que caminha no rap desde 2002 e como muitos, comecei nos freestyles feito nas ruas e lá permaneci por muito tempo. Fly é um nome que me foi atribuído pelos meus pais e como sempre gostei de ser original decidi manter o nome no rap, pois é algo que me identifica já a partir de casa. Já o Skuad é uma longa história… Surgiu através das battles. Na época em que entrei para o rap existiam muitas gangs de rua (granelistas) e na minha zona as batalhas físicas com gangs rivais eram constantes, tive muitos problemas e ainda era puto por isso acostumei-me a fazer as coisas com muita adrenalina. Sempre gostei de batalhas de freestyle e por esta razão muitos rappers e grupos organizados me procuravam para termos este tipo de experiência que eu pessoalmente aprecio, foram várias rixas e a melhor parte de tudo isto é que foram poucos mcs que realmente conseguiram fazer-me frente.


Na altura representava sozinho, era o único rapper do meu bairro e estava sempre pronto para defender a hood quando os motherfuckers surgiam para lutas verbais. Aprendi e aprendo muito com isto e posso até dizer que os battles ajudam qualquer mc a ter uma visão mais ampla de como o rap realmente é (cultura violenta) sempre que enfrentava um mc absorvia várias técnicas e com o tempo fui reparando que sozinho eu era como se fosse um grupo, ou seja, tinha a capacidade de fazer o que um grupo fazia num rompimento quando se deparava com opositores, isto fez com que eu adquirisse várias qualidades como mc. Daí a origem do “Skuad”. Fly Skuad é uma mistura do útil e o agradável, Fly agradável para a minha família e para mim Lol…Skuad além de ser algo que me caracteriza é útil porque no rap é necessário mostrarmos sempre o nosso lado destrutivo e eu naturalmente faço questão de dizer alguns suckers que não se deve pisar na minha linha, entendes?!

LHH: Nas tuas músicas demonstras ter as raízes firmes no Underground mas, com a dinâmica da vida e do próprio "movimento", ás vezes as coisas mudam. Imaginas algum dia mudar do underground para outro estilo?


Fly: Esta pergunta nem devia ser feita, principalmente a mim, mas a resposta é “Não”. O que muitos não percebem é que o Underground não é só um estilo musical, é também um modo de vida que se reflecte na forma de pensar, agir e nas decisões que nos tomamos para o nosso bem, portanto, nas musicas apresento este lado porque é de lá que vim e faço porque é aquilo que sinto. Não há muito a dizer nesta questão porque não tem sentido eu mudar para outro estilo independentemente das condições que a vida me oferecer, serei sempre o mesmo.

LHH: O que achas que falta ao movimento Underground?


Fly: Falta os mcs começarem a trabalhar mais e procurar apresentar os seus trabalhos a toda gente, eu sei que é complicado, mas já começa a ser possível fazer isso de forma independente. Nos dia de hoje não tem sentido associarmos o conceito “underground” com o anonimato, repara que nós temos um conteúdo interventivo nas músicas e representamos de formas diferentes, aqui podes encontrar letras revolucionárias, conscientes, ou seja, músicas que vêem com o objectivo de “abrir as mentes” dos ouvintes e informá-los que as coisas na sociedade se passam da seguinte maneira. Eu não sou anónimo porque quero, mas sim por culpa da comunicação social que não divulga as minhas obras, isto faz com que eu e muitos manos do movimento underground sejamos rotulados como “músicos anónimos”. Agora aqueles que gostam de ser, eu entendo, mas reparem que chegamos a um ponto em que a música em Angola superou as expectativas e nos dias de hoje trabalhar de forma clandestina é complicado para um artista, é necessário que os mcs apresentem mas projectos, promovam mais as suas cenas porque ninguém faz música para si ou para os seus amigos, estamos aqui para cantar para o mundo inteiro. É necessário que o mundo ouça a nossa voz pois temos muita coisa a dizer. Aproveito para mandar um “holla” a todo o pessoal do movimento e dizer que precisamos nos organizar e unir as forças para derrubar com toda essa merda.

LHH: O que a Caixa de Pandora representa pra ti?


Fly: Caixa de Pandora é o meu grupo e além disso é minha família. Temos uma relação muito saudável e não é só dentro do rap, é muito mais abrangente. Conhecemo-nos há muito tempo e fomos criando uma amizade muito profunda onde todos aprendiam com todos, sempre que podemos nos encontramos nos encontramos no são Paulo para criarmos rodas de Freestyle na rua, isto e bom porque nos matem vivo no movimento e a melhor forma que encontramos para representar bem o hip hop, e fodida e a conexão há sempre improviso terríveis e muito rompimento, tu já tiveste la e viste como e. Agora existe algo que ate chega ser curioso, o facto de sermos um grupo, porque todos pensamos de forma diferente mas defendemos o mesmo ideal e isto nos mantém ligados, cada um tem o seu estilo e a sua forma de trazer a mensagem para as pessoas, e isto e algo que me impressiona muito, se começares a ouvir bem um cada elemento da caixa de Pandora, vais notar muito rápido que ninguém e igual ao outro e isto torna o grupo completo e bem definido em todos aspectos.

LHH: A Caixa de Pandora tem revelado bons mcs como Tu, Lucassio e Kid MC. Isso gera ou já gerou algum tipo de conflito com os demais integrantes?


Fly: Antes de mais, é necessário que as pessoas saibam que o Kid não faz parte da Caixa de Pandora. Fazem parte da Caixa de Pandora: Lucassio, The Hot Mc, Subversivo, Infinito, Balta P, New Man, Negrado, Perispírito e mais 291 soldados juntos somos 300 niggaz. Agora respondendo à tua pergunta, não tem gerado conflito, cada um conhece o seu potencial e nesse momento o Lucassio, Balta P e eu somos os que mais apresentamos trabalhos devido a nossa disponibilidade. O resto do pessoal está a preparar as cenas, mas estão muito ocupados com outras actividades, o que lhes impossibilita dar atenção ao rap da forma que eles gostariam de dar. Mas quando o tempo favorecer, eles estarão em peso para representar bem o nosso movimento e dar um contributo grande para que o rap underground em Angola tenha mais voz.

LHH: Qual a tua opinião sobre o actual estado do hip hop lusófono e angolano em particular?


Fly: O rap lusófono está a crescer e é notável a sua evolução. Em tempos quando se falava em Hip Hop na lusofonia era muito mais Portugal e Brasil, hoje países como Angola, Moçambique e Cabo Verde, já têm trabalhos relevantes e que servem como referência no movimento. Chegamos a uma fase em que os rappers começaram a atingir outros pontos, independentemente do estilo, já é possível ver que muitos estão a projectar carreiras e com perspectivas de crescimento no futuro.Sou muito mais crítico quando se trata do nosso rap, porque reparo que ele tem muitos problemas, pois ele cresceu muito, mas devido a esse crescimento os problemas também aumentaram. Os rappers agora estão a ceder muito às exigências que a comunicação social estabelece, quando a comunicação social é que devia ceder às exigências que o rap tem, daí o caso de muitos deixarem de ser o que são para poder tocar nas rádios ou passar na televisão e tornam-se ridículos. O que mais temos aqui são fotocópias, ou seja, rappers sem originalidade, e o engraçado é que algumas dessas cópias conseguem ter sucesso. É triste ver artistas que juraram ser sempre eles, a se deixarem levar pela moda, por exemplo essa questão de misturarem o rap com outros estilos, tipo kuduro e kizomba, não tem sentido porque são feitas com objectivos comercias, ou seja, elas são feitas porque “estão a bater” e muitos acham que é a forma mais fácil de conseguir sucesso, só que eles não percebem que estão a levar o nosso rap para o lado mais podre, eu nunca imaginei que aqui o hip hop atingiria este lado da ridicularidade, mas já atingiu e será pior se não fizermos algo, porque a nova geração que está aí a vir, está a ser afectada por esta onda de rappers medíocres e básicos. Não quer dizer que não respeito a mistura no hip hop, ela já existe, temos o “Rnb” e outras mais, só que eu só respeito se a mistura for feita com amor e se for com um estilo que combina com o rap, aí sim posso tirar o chapéu e reconhecer que a música está cada vez maior e sem limites de progressão. Mas por outro lado, devo reconhecer que o rap está bom, porque ainda existem alguns mcs da antiga escola com ideias positivas e permanecem originais até hoje, há também o surgimento de muitos bons mcs da nova geração, que deram sangue novo ao rap e trouxeram coisas mais criativas e está a fazer com que o nosso rap chegue muito mas longe.


LHH: Algum mc com quem gostaria de trabalhar em especial?


Fly: São vários mcs, prefiro não citar nomes porque neste momento não tenho projectos onde eu possa enquadra-los e também não sei se seria possível, mas por agora eu gostaria mesmo de trabalhar com os meus niggas da Caixa de Pandora, é uma pena que o tempo não permite isso mas acredito q brevemente nós estaremos juntos e os problemas do rap se vão resolver.


LHH: Sendo um mc com bom potencial em Freestyle, porquê que nunca tentaste o Big Show Cidade?


Fly: Sempre fui o tipo de mc que gosta da rua e programas de rádio para mim eram como se fossem testes e eu nunca gostei muito de testes. Tenho liberdade de expressão na mensagem musical e também no freestyle e naquela época eu achava que no Big Show não podia me expressar da melhor maneira devido as condições que eles estabeleciam para os mcs. Daí dar-se o caso de eu preferir estar na rua que é onde eu me sentia como um artista e expressava os meus sentimentos da minha maneira, sem ter que me preocupar se estou a fazer o certo ou não.

LHH: Ultimamente a tela do rap nacional tem sido pintada com muitos beefs. Qual a tua opinião sobre isso?

Fly: Eu curto beefs. Eu acho que é a melhor parte que o rap pode nos apresentar, pois é através das palavras que nós conseguimos ver o potencial de cada um. Muita gente censura o beef, dizendo que alguns beefam para poder aparecer/subir, mas para mim isso é conversa de covardes. Beef faz parte do rap e não vai deixar de fazer, é uma das atracções que o rap pode nos apresentar, até porque é divertido ver dois mcs a lutarem através das palavras. É bom que os mcs saibam q eu curto beefs e como um bom rapper com colhões suficientes para tal, eu tou sempre disposto, o que não queira dizer que eu esteja a procura de beefs, mas estou a espera do 1º cabrão que tentar tocar em mim ou a um elemento do meu grupo.

Por outro lado não concordo com a atitude que muitos niggas têm quando liricamente são derrubados, partem para agressão física, isto é ridículo, estraga por completo a magia que os beefes trazem para nos nossos ouvidos e faz com que muita gente perca o interesse total por esta parte do rap, ali sim eu não concordo. É necessário que os rappers saibam separar as coisas, tirem as armas físicas do rap e passem a utilizar mais as armas verbais, se assim for, teremos um movimento muito mais forte com mcs terroristas na forma de pensar. Repito, eu curto beefs, mas beefs saudáveis porque também ajuda o mc a tornar-se muito mais daquilo que ele é.


LHH: Como é que foi trabalhar na Mixtape “Directamente do Underground” ?


Fly: Foi uma coisa muito boa para mim porque foram as minhas primeiras letras. Eu não gostava de escrever músicas, preferia fazer freestyles e achava que podia chegar no estúdio, improvisar e o improviso se tornaria em música, mas com o tempo fui percebendo que as coisas não são bem assim, a musica transporta um lado mais sério e era necessário eu estar mais concentrado para poder trazer aquilo que estava a sentir e trazer alguma informação ao pessoal. E o engraçado nessa mixtape é que foi feita de forma muito rápida, algo que surpreendeu tanto a mim como aos meus niggas. As letras foram escritas e gravadas ao mesmo tempo, devido a estes factores consegui adquirir uma boa experiencia e a cada dia que passa me sinto mais preparado para trabalhar nos projectos que se seguem.


LHH: Projectos futuros?


Fly: São tantos, só para teres noção eu sempre que acordo procuro escrever alguma letra e desta forma os projectos vão aumentando, porque são muitas músicas a serem feitas. Eu gosto de trabalhar para o rap mesmo ele não me dando nada, pois eu o faço por amor. Sinto que o rap me faz bem e também sinto que eu o faço bem porque é isso que me caracteriza como um homem. Em relação aos trabalhos para o futuro, prefiro não adiantar nada, só posso dizer que vocês ainda vão ouvir falar muito de Fly Skuad, porque as coisas que por mim estão a ser feitas… hehehe… Epah aguardem manos, aguardem mesmo.


LHH: Tendo em conta a "strong language" com que te expressas, não tens receio de ter que mudar na altura em que quiseres gravar um álbum?


Fly: Não, não receio isso porque é assim que eu sou naturalmente. Se houver necessidade de mudar, acho que será para ser muito mais pesado. Até porque eu acho que as pessoas devem me aceitar como sou e acho que todos nós no dia a dia temos uma “strong language” e eu faço isso na música normalmente. Meu rap é de liberdade de expressão e a liberdade de expressão implica vários factores e este é um deles, se não curtes não ouve, para mim safoda. O problema é que nós temos ouvidos muito sensíveis quando se fala de rap feito em Angola, as pessoas censuram muito as expressões que usamos em algumas músicas mas estas mesmas pessoas cantam e vibram com as musicas feitas na América repletas de obscenidades… É muito triste ver programas de rádio a cagaram para os nossos sons mas tocarem 24/24 horas músicas com conteúdo explícito feitas em inglês, mas como isso não me importa eu também cago para eles e continuo o mesmo nas minhas letras e se um dia o meu som tocar nas rádios, não será porque mudei o conteúdo.


LHH: Queriamos que deixasse uma mensagem á comunidade "lusohiphop".


Fly: Fiquem atentos aos próximos passos que darei, estou a preparar cenas muito interessantes, dignas dos vossos ouvidos. Quero atingir todos os pontos, fazer algo com que eu me sinta bem e que as pessoas também se sintam bem ao me ouvir porque esta questão de ser um rapper underground faz confusão na cabeça de muita gente. Quero que as pessoas saibam que o movimento underground também faz música com qualidade e é isso que nós estamos a tentar trazer para pessoal, como prova, avizinha-se a minha mixtape intitulada “As Crónicas de Fly Skuad – 666 Barras” que transportam um conteúdo muito pesado, sério e não é para ouvidos sensíveis, porque isto é o underground da camada mais profunda. Está também a ser preparada a mixtape do Lucassio com o nome de “Assassino Culto” e a do meu hommie Infinito – Deus da Guerra.


www.lusohiphop.blogspot.com

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ANDREIA QUARESMA

BLACK VIBE

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