segunda-feira, 8 de março de 2010

Site Rapnacional Entrevista a Nega Gizza




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Especial Mulheres: Nega Gizza  | leia esse artigo
Se o Rio é 40 Graus, essa Carioca chapa quente é 1.000 graus de puro talento, firmeza e muita dignidade. Giselle Gomes Souza ou simplesmente, Nega Gizza, uma guerreira que milita nos palcos e principalmente fora deles.
Pelo seu trabalho na CUFA ao lado de MV Bill e Celso Athaide, Gizza já merece um troféu, mas a vida de Nega Gizza vai muito além, este ano ela lança um disco, um programa de TV e dois documentários, e com certeza triunfará.
Em 2002 Nega rimou em prol de uma classe trabalhadora de mulheres que recebem o preconceito da sociedade, as prostitutas, Gizza deixou aflorar sua sensibilidade e mostrou o lado humano dessas mulheres que merecem nosso respeito.
É por isso e muito mais que Gizza é mais uma de nossas Guerreiras do Hip Hop homenageada no Especial Mulheres do Rap Nacional.
Quais foram as principais dificuldades que você sentiu no começo de sua carreira dentro do Rap por ser mulher?
Para ser muito franca não senti muito dificuldades por várias razões, a principal é que nunca basiei meu trabalho no palco, sempre procurei fazer trabalhos paralelos então a militância sempre falou mais alto pra mim, por isso as dificuldades não eram como rapper , até porque comecei a cantar com o Bill , que sempre foi , desde o inicio da sua carreira uma referência para o rap e não posso deixar de considerar que tendo o Celso como produtor também fica mais fácil trabalhar . Então eu acabei tendo muito mais facilidade do que dificuldade. Mas se for falar de problemas , então eu diria que esta no próprio movimento, cujo mercado consumidor , tanto para shows como para disco esta em baixa a muito tempo, alias , a musica em geral. Mas como o nosso é a base da periferia, favelas , ai é onde o problema é mais intenso . Mas volto a dizer que faço muitas outras coisas no rap, como documentários , produções , palestras e outras tantas coisas … A verdade é que ninguém vende disco no rap , quem vende é só para pagar as contas básicas , então não dá pra ficar esperando o rap explodir , é melhor produzir por outros lados, é o que tento fazer.
Apesar das dificuldades o que mais te motivou a continuar cantando Rap?
Hoje eu não estou no rap, estou na vida, o rap faz parte de uma parte das minhas coisas, mas estou no movimento social , me comunicando com o cinema , com o audiovisual em geral, com rádios , televisão, produções , premiações em fim.. Parte dessas atividades tem a ver com o rap, mas tem parte que nem lembra o rap. Mas claro que tenho motivação para estar no rap , e a minha maior motivação é ver uma geração surgir diferente dessa que temos hoje, que venham novos atores do rap para produzir mudanças , não denuncias vazias, pois se o rap, seja feminino ou não quer sobreviver ele deve encontrar outro caminho, se renovar, do contrario, vou te dar uma entrevista em breve para discutir sobre o porque do rap ter acabado …
Na hora de escrever suas letras , da tempo de pensar que muitas outras mulheres vão ouvir ,e que suas musicas podem influenciá-las ?
O rap tem que ser livre, não precisa falar de favela , de asfalto, riqueza , mulheres ou outro assunto qualquer. Cada um fala do que achar conveniente , não gosto muito de mulher contando musica de mulher só para atender a expectativa dos homens. Não penso nunca em quem vai ouvir o que escrevo e como as pessoas vão se comportar mediante o que escrevo, se eu fizesse isso , talvez não escreveria a musica prostituta para não ser mal interpretada. Escrevo o que estou vivendo no momento é esse o meu prazer . Se eu ficar pensando muito acabo perdendo o prazer de compor, de cantar, ai não vale a pena fazer rap .

Hoje em dia já existem muitas mulheres no Rap, e como você já esta a mais tempo e já conseguiu um reconhecimento , como é a responsabilidade de saber que as mulheres que estão começando agora te veem como inspiração?
O rap tá falido, ninguém vende nada, as pessoas não fazem shows, falar isso é ruim pra mim, reconhecer isso é importante e assumir essa verdade serve como alerta, pois tenho visto muita gente jogando seu futuro na lama acreditando no que o rap pode lhe dar, e a verdade é que em geral não vai dar nada, basta contar as história bem sucedidas, to falando dos homens, quando falamos de mulher, ai é que a coisa fica feia. Quantas mulheres gravaram disco nos últimos 10 anos ?
O que aconteceu com esses raros discos? Quantas mulheres fazem shows? Quantas mulheres vivem de rap? Eu não vou aqui assumir a postura de que o rap é uma revolução para as mulheres, vou afirmar sim, que o rap é uma maneira de nós, mulheres ou não, ajustar nosso pensamento e colocar em forma de terapia, lazer e prazer. Se pensar em gravar um disco, antes de fazer, calcula quanto vai gastar e quanto vai vender, se quer fazer, faça, mas não caia em depressão.. O rap é a música da verdade , e para isso temos que nos acostumar com ela, para depois sim, altera – lá .
Nesse dia das mulheres fazendo agora uma retrospectiva da sua carreira quais foram as principais conquistas?
Minha maior conquista foi ocupar o espaço político que ocupo hoje, ser coordenadora de uma organização de hip hop com tantas ações, em tantos estados e fora do brasil. Ver a mudança que estamos fazendo na vida das pessoas é a minha maior alegria e vejo isso todos os dais.
E o que ainda esta faltando?
Quase tudo, conquistei poucas coisas , quando lembro que lanço um disco esse ano, lanço um programa de tv, lanço dois documentários e outras loucuras eu fico sem saber o que falta , de tanta coisa que não conquistei ainda , mas ver minhas filhas adultas e com dignidade é a minha maior conquistas como rapper , mulher , militante e como ser humano .
Hoje em dia há varias letras de Rap que relacionam mulher com sensualidade , você acha que esse tipo de letra desmoraliza as mulheres no Rap?
Não, claro que não. A musica é uma arte, privar as mulheres de compor o que ela estiver sentindo, obrigar a mulher a se comportar de uma única forma é desmoralizar a sua arte . A mulher tem que falar do que quiser , ela tem licença poética .
Deixe agora uma salve para mulheres que acessam o Portal e que muitas delas também tem historias semelhantes a sua ….
Se mulher não é fácil num mundo machista , mas não podemos fazer disso uma estrada para a depressão. Vamos curtir nossa condição de mulher , e vamos combinar , estamos conquistando a cada dia muita coisa , então vamos curtir esse dia simbólico, mas não vamos esquecer que somos mulheres todos os dias . Não faça do rap uma bandeira , faça do rap a sua mudança pessoal. Se você conseguir mudar pra melhor , então o rap terá mudado .
Entrevista: Mandrake e Paula Farias
Colaboração: Cristiane Oliveira
Texto: Cristiane Oliveira
Fotos: Divulgação
Fonte: www.rapnacional.com.br

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