sábado, 19 de fevereiro de 2011

#RapBR - Cuco do VDA - Liberdade e Expresao









Estavamos filmando um clipe do MC Careca por volta de uma e meia da tarde (era maio ou junho do ano passado), quando chegaram duas viaturas mandando todo mundo encostar na parede. Antes mesmo de encostarmos chegaram mais quatro viaturas. Aquela velha historia de "cade o bagulho" "o que voces tao fazendo" e tal, e a gente explicou que estava filmando um clipe de funk. Pediram a camera e quando viram as filmagens, comemoraram como se estivessem prendendo os chefes de alguma organização criminosa. As cenas retratavam endolação, venda de drogas, a autuação de um bandido por parte da polícia (sim! tinhamos encenado a prisao de um traficante), entre outras cenas nao cronologicas de um roteiro de videoclipe que narrava a vida de tres amigos, dois criminosos e um trabalhador. Depois de revirarem o salao de cabeleireiro do MC Careca e muito bla bla bla policial, entregamos as pistolas de plastico e eu cheguei a falar onde estavam as drogas cenograficas (fermento em pó e orégano) pra ver se resolvia a situação de uma vez, pois um dos rapazes envolvidos na produção, tinha jogado no telhado de uma garagem. Um policial andou comigo ate o local mas nao pediu pra eu pegar e nem avisou os outros policiais. Mesmo assim, todo mundo pro 5º distrito. Chegando la delegado, escrivao e mais um monte deles se reuniram pra ver as imagens na camera como se fosse final de copa do mundo. De la de fora ouviamos os gritos "ISSO É APOLOGIA!". Os policiais civis ainda retornaram à casa do MC e claro que nao acharam nada, mas no salão encontraram, na gaveta de um funcionário, um dado de maconha. Falei de novo que ainda tinha as drogas cenograficas pra pegar na tal garagem. Depois de pegar o fermento em pó e o oregano embalados como droga, o delegado disse: "CASO ENCERRADO"... ...pra ele. Ainda voltamos ao distrito, e tomamos o maior cha de cadeira da minha vida, enquanto eles pegavam o depoimento dos policiais militares (pois nós não fomos sequer ouvidos). Umas 4 ou 5 horas depois, fomos liberados depois do funcionario do salão assinar um tc de usuario de droga, e eu e o MC Careca tirar aquelas fotos segurando a plaquinha. O numero do B.O. eu nem lembro, mas depois de umas semanas, pedi pro meu sogro que trabalha na justiça federal, ver o tramit pra que eu resgatasse minha camera (sim! ela esta apreendida até hoje) e fiquei sabendo que algum promotor desocupado iria nos indiciar por apologia ao crime. Fiquei possesso (foi quando fiz esse som - Liberdade e Expressão). Há umas duas semanas fui intimado para comparecer no fórum para uma "audiência preliminar". Essa audiência era na verdade a "sugestão" de uma pena alternativa, que poderiamos ter recusado e ir ao tribunal, porem achamos menos desgastante emocionalmente e financeiramente falando aceitá-la,  pois a pena são tres meses de trabalho comunitario em órgaos publicos com carga horaria de 8 horas por semana, ou seja, um dia (que tambem pode ser dividida de forma a se encaixar melhor no "fuso-horario" de cada "meliante"). Enfim, justça mesmo só na carta do baralho, isso é mais um retrato de como age a opressão nos dias de hoje: "Censura não existe, mas se você quer falar o que não queremos ouvir, enquadramos em apologia ao crime e voce se fode do mesmo jeito". Apologia ao crime é enaltecer ou tornar glorioso qualquer crime ou criminoso. E a musica e o clipe do MC Careca não tinham nada disso. Nós não fazemos nada disso, mas mesmo assim, só pra eles não perderem a viagem, deram essa canseira como mensagem. A má notícia pra eles é que nada vai mudar, a resistência continua. Muito pelo contrario, é mais combustivel pras nossas músicas.

Cuco do VDA

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