Sensuais e pouco engajadas, elas fazem uma versão alegre da vertente.
Lívia Cruz, Flora Matos e Karol Conka pregam o fim do sexismo musical.
Karol
Conka foi estimulada pelo rapper Emicida. "Ele falou pra eu me jogar,
aproveitar a maré boa" (Foto: Luciana Faria/Divulgação )
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"A noite tá perfeita, eu saio cazamigaloka/Joias, maquiagem, muito capricho na roupa/Versatilizando no estilo, com muito brilho".
Assim começa "Gandaia", single de Karol Conka, integrante de destaque da safra emergente de mulheres MCs do Brasil. Em comum, elas têm o sucesso em um gênero majoritariamente masculino e a opção por rimas mais felizes. O rap feminino brasileiro trocou a foice pela roupa justa e o rebolado. Para Lívia Cruz, Karol Conka e Flora Matos, mulheres MCs que ganharam projeção nacional, é possível dominar a vertente com a voz e o quadril.
Assim começa "Gandaia", single de Karol Conka, integrante de destaque da safra emergente de mulheres MCs do Brasil. Em comum, elas têm o sucesso em um gênero majoritariamente masculino e a opção por rimas mais felizes. O rap feminino brasileiro trocou a foice pela roupa justa e o rebolado. Para Lívia Cruz, Karol Conka e Flora Matos, mulheres MCs que ganharam projeção nacional, é possível dominar a vertente com a voz e o quadril.
Ao tirar as amarras da criatividade, elas encabeçaram um movimento
contra a infelicidade (e a testosterona) - até então, requisitos do
estilo. Em suas letras, há espaço para a versátil dor de cotovelo ou
temas como amizade, balada e retratos de um cotidiano quase indiferente
às desigualdades sociais ou a falta de amor em SP.
Distantes da militância, os temas supostamente banais, na visão das
garotas, não domesticam o rap, mas o tornam acessível e plural. “No show
que fiz em São Paulo, no Sesc, ano passado, vi na plateia homens,
mulheres, crianças, meninas adolescentes e casais gays”, comenta Karol
Conka. Elas são tão ecléticas quanto os novos fãs.
Música-diário
Flora Matos não poupa a agressividade
na hora de defender a música que faz
(Foto: Divulgação )
na hora de defender a música que faz
(Foto: Divulgação )
Karol diz que suas canções “só fazem chorar se for de alegria. É um
remedinho pra ficar contente e esquecer de tudo.” Cantar amenidades
funciona como um amplificador da música e estilo de vida que gostam de
levar.
"Sou uma solteira desprendida, vivo pra mim. Gosto de me inspirar em
histórias dos amigos, em relatos da vida. O amor mais sexual vai estar
no meu novo álbum”, revela Karol. O disco será lançado em março de 2012.
Fora dos palcos a autoestima permanece vigente. Flora Matos, autora da
música “Pretin”, um diminutinho pra “pretinho”, apelido do homem-desejo
da narradora, dá de ombros às cobranças por um movimento supostamente
menos romântico.
“É preciso fazer rap engajado no quê? Não existe mais isso. Trabalhamos
com a verdade. Matéria-prima de MC é o que a gente sente e vê.”
A leveza das letras dá lugar à agressividade e postura crítica quando é
preciso protestar a favor do que faz. “As pessoas caíram na real de que
além do problema, também existe a solução. E a alegria de viver também
existe, mas quando exposta em uma musica rap, pode soar pop e sensual. E
isso não nos impede de passar a felicidade para o papel. Eu frequento
batalhas e vejo as mulheres mandando muito bem.”
Cosplay
A rapper Lívia Cruz (Foto: Diogo França)
Lívia Cruz confessa que tentou camuflar a beleza e as curvas dentro de
roupas largas, assumindo uma postura mais masculina, inicialmente. Como
não nasceu no berço do movimento hip hop - a periferia - diz ter
enfrentado o triplo de preconceitos por viver no limbo da classe média.
Participou de batalhas, bateu de frente com homens em duelos de MCs em
uma estratégia de apanhar para crescer. “Era a forma de me aperfeiçoar,
desenvolver agilidade, mas sei que não tenho esse talento e sangue frio.
No começo, achava necessário.”
Tempos depois, percebeu que a fantasia de “menino” não amenizava os
preconceitos. Desistiu da autopunição e se permitiu ser vaidosa e
feminina. “Foi então que soltei os cabelos, coloquei brinco de argola e
roupas coladas mesmo.”
Em seu último confronto, recorda que perdeu por falta de jogo de
cintura – e por pudor. “O cara com quem eu duelava me mandou abrir as
pernas e meu pai estava na plateia. Foi um duelo bom, mas eu teria que
mexer com a sexualidade dele para vencer. No momento, não me passou pela
cabeça uma forma de impor respeito. Eu depois até pensei, mas o
improviso é isso, ganha quem tiver mais agilidade pra derrubar.”
A vida nos ringues musicais, entretanto, rendeu qualidade e destemor
aos improvisos necessários em cima do palco. “Se eu erro a letra durante
um show, sei me virar tranquilamente.”
Assim como Karol e Flora, Lívia acredita que o rap pop que faz não
arranha a vertente, apenas a torna menos periférica. É a batida, e não o
tema, que a seduz. "Não cresci em uma realidade sofredora, mas batalhei
pra ter espaço. Não preciso falar do que não vivi pra poder fazer meu
rap. Nunca quis ser cantora de MPB, samba ou qualquer outra coisa."
By G1
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