sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Carta Aberta ao Hip Hop Brasileiro‏






    Há momento em que os indivíduos têm que tomar decisões importantes nos rumos de suas vidas. Com as organizações políticas e culturais não é diferente. No Hip Hop, mais do que nunca, é hora de tomar decisões. Os prognósticos que fizemos desde o surgimento do Quilombo Brasil em 2008 ou mesmo os que o Quilombo Urbano já fazia há mais de dez anos tem, infelizmente, vem se confirmado a cada dia. O Hip Hop brasileiro está ficando do jeito que a burguesia quer, despolitizado e mercantilizado.
             Quem diria que um dia o Racionais estaria de mãos dadas com a Nike e gravando clipe para o Fantástico, MV Bill no Faustão e na Malhação, entre tantas outras mudanças radicais que vem ocorrendo no Hip Hop brasileiro. Em termo de organizações o rumo também é parecido. O governo abriu a torneira de financiamento para fechar a válvula de escape da indignação política que o Hip Hop representa na favela. 
             Só para se ter uma idéia, o Prêmio Cultura Hip Hop 2010 Preto Ghoez do Ministério da Cultura, envolve um montante de mais de um milhão e meio de reais.  A Zulu Nation, organização histórica de Hip Hop mundial, tem até parceria com a Legião da Boa Vontade. No nordeste grande parte dos movimentos se converteu em ONG’s, algumas chegam até a realizar parcerias com o aparato policial. No entanto, assim como nós, quase todas as organizações reconhecem que há uma crise, mas o que a maioria não conseguir reconhecer ou admitir é que eles são parte da crise.
           Assim como o PT conseguiu controlar o setor majoritário do movimento sindical e popular, também conseguiu fazer o mesmo com o setor igualmente majoritário do Hip Hop brasileiro. Por isso o candidato a vice-presidente de Dilma (PT), Michel Temer (PMDB), afirmou que o país está bem por que os movimentos sociais e os pobres estão pacificados. O país não está pacificado, é claro, mas que a maioria dos movimentos sindicais e sociais passou a ser satélite político do governo Lula, não deixa de ser uma dura realidade. 
             A UNE saiu das ruas para apoiar quase todos os ataques de Lula à educação pública. A CUT se transformou numa máfia de dirigentes milionários que apóia inclusive demissões de trabalhadores e ataques aos aposentados. No Maranhão muitas de suas lideranças estão juntas com o grupo Sarney. O MST viu a reforma agrária regredir mais do que no governo de FHC, na verdade no governo Lula a reforma agrária deixou de existir, agora é só regularização fundiária, não existe mais expropriação de latifúndio. Apesar disso, a direção do MST continua apoiando o governo Lula, ainda que criticamente. 
          Com a maioria das entidades do Movimento Negro a cena se repete. A aprovação, ou melhor, a destruição do Estatuto da Igualdade Racial foi um dos maiores crime cometido pelo Estado brasileiro contra a população negra nos últimos anos. De acordo com esse Estatuto o racismo deixou de existir no Brasil e as cotas foram extinta do projeto, tudo isso com o aval do PT. No entanto, a grande parte das entidades do Movimento Negro segue apoiando Dilma e Lula.
Me Diga com Quem Tú Andas....
           Durante a década de 1990 estivemos com a CUT, com o PT, com a UNE, aprendemos muitos com eles e nos orgulhamos muito por isso, mas não dar mais pra caminhar de mãos dadas com quem estende as mãos aos inimigos de nosso povo. Essa é a encruzilhada que nos encontramos.  A ousadia sempre foi uma marca do Hip Hop, remar contra a maré, enfrentar as adversidades para superar os obstáculos. Sem ousadia não pode haver lutas e sem lutas não haverá vitórias. Nesse momento caminhar com quem caminha contra nosso povo significa engrossar as fileiras do inimigo, significa legitimá-los. 
           A partir do próximo período a economia brasileira entrará em um processo de estagnação segundo o próprio governo. Esse ano o decifict da conta corrente do Brasil chegou a quase 50 bilhões de reais, o maior desde 1946. A crise econômica baterá mais forte nas portas dos favelados e os ataques virão contra a classe trabalhadora, não temos dúvida disso. 
               Os investimentos em repressão policial têm crescido de forma assustadora no Brasil. A presença de tanta droga na periferia não é atoa, é uma política de Estado, é uma estratégia da burguesia nacional e do imperialismo para controlar um setor da população brasileira que não tem mais nada a perder. Até o Hip Hop, em muitos estados e municípios, está no atoleiro do crak e da guerra interna, política de Estado que divide e mata! É claro que a favela, por contra própria, reagirá a isso, passando inclusive por cima das ONG’s, que hoje são financiadas pelo governo para manter o controle social que o capital internacional necessita para circular em nosso país. Mas, nenhuma luta cega, por mais justa que seja, resultará em processos revolucionários. Cedo ou tarde a burguesia fechará o processo. 
             Por isso temos que construir algo grandioso, que esteja acima de nossas atuais organizações de cidades e estados. Temos que construir uma ferramenta política e cultural nacional, que seja de periferia, que seja revolucionária, que seja socialista, portanto, que não pode ser ONG nem financiada pelos governos ou pelo imperialismo. Não será possível combater o demônio aliando-se ao seu próprio rabo!

Quilombo Brasil: uma alternativa em Construção
                O Movimento Hip Hop Militante “Quilombo Brasilâ€� é uma experiência muito recente, mas que preserva a ousadia do Hip Hop Militante desse país.  Recentemente lançamos a Campanha Pelo Fim da Guerra Interna, uma campanha formidável para construir a unidade política da favela, mas é ainda muito modesta para a grandeza dos desafios colocados para nós. No Maranhão construímos, via Quilombo Urbano, as marchas da periferia.
               Nossa parte estamos fazendo, mas não basta só boa vontade, queremos construir algo que faça esse país tremer perante aqueles que tremem de indignação contra o capitalismo. Queremos construir um Quilombo Brasil em cada cidade desse país e uma posse em cada quebrada dessas cidades, posses que funcionem como células revolucionárias de nosso organismo nacional, o MHMQB. Não precisamos mais provar pra ninguém que somos bons construtores de rimas, ótimos maestros nos toca discos, excelentes grafiteiros e excepcionais dançarinos, no entanto, precisamos dar um salto de qualidade em nossa forma de organização política. Por isso estamos propondo um amplo debate entre as diversas organizações ou adeptos e militantes independentes que, como nós, querem tirar o Hip Hop do atual estado de coisas em que se encontra e construir algo que supere inclusive nossa briosa atuação na década de 1990. 
             Nós do Quilombo Brasil só não abriremos mão dos nossos princípios já consolidados desde 2008 que versa sobre a independência perante os patrões e a autonomia diante do Estado. Não abriremos mão do nosso objetivo estratégico que é a destruição do racismo, do machismo, do homofobismo e do capitalismo, bem como da construção do socialismo. No campo da arte e da cultura esses princípios só terão sentido se as mesmas forem plenamente livres e revolucionárias. No mais, façamos o debate, construamos o novo, construamos o MHMQB.
MOVIMENTO HIP HOP MILITANTE QUILOMBO BRASIL


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