O meu nome é Thaíde !
Perto de completar 44 anos, Altair Gonçalves, mais conhecido como Thaíde, continua sendo uma referência do hip hop brasileiro. Da infância difícil e muito pobre na zona sul de São Paulo, ele conquistou respeito e admiração por onde passou, ganhou espaço na televisão brasileira e hoje faz sucesso também como repórter do programa A Liga, exibido na Band, no qual o seu lado jornalista vira e mexe esbarra com a realidade vivida por ele no passado. Thaíde também já exercitou o seu lado ator em três filmes para o cinema, mas deixa claro que é no hip hop que se realiza por completo. "Eu estou jornalista, e atuo, mas eu sou mesmo é um MC", avisa. Nesta entrevista, Thaíde fala de preconceito, da carreira artística, das boas lembranças dos tempos de São Bento, do Black na Cena Music Festival (evento de música negra que será realizado em São Paulo em julho), e de como o movimento hip hop mudou sua própria vida e de milhares de pessoas
O rapper chega ao Beco da Vila Madalena, no famoso bairro paulistano. Local de grandes graffitis e palco da entrevista para RAÇA BRASIL |
Nasci na Cidade Ademar, na Vila Constância, em São Paulo. E é o seguinte: a gente tinha uma vida muito difícil, mas isso é uma coisa natural para quem vive na favela, infelizmente, principalmente naquela época, que não tinha tanta oportunidade. As pessoas tinham que fazer suas oportunidades. Hoje, você tem trabalhos e profissões alternativas, tem como buscar, é bem diferente daquela época. Eu ia nas casas das pessoas para conseguir o que a gente chamava de "auxílio", por isso que sempre digo que a zona sul de São Paulo é uma região que eu conheço muito bem. Eu passei a infância procurando esse "auxílio".
Como assim, auxílio?
Bom, o "auxílio", era esmola mesmo. A minha mãe, que já morreu, sempre fez isso. Ela veio de um lugar chamado Serra Negra e, quando chegou em São Paulo, teve que se virar e a maneira dela para sobreviver foi essa, sair na rua pedindo esmola. Ela era analfabeta, mas boa em matemática.
O que o break significou pra você?
Eu dançava soul e para o break foi rápido. Tinha o suingue, a ginga, o gosto pela cultura negra. Quando vi o break, me liguei que era a evolução da dança do gueto.
"EU NÃO SOU JORNALISTA, ATUO EM ALGUMAS COISAS, MAS NÃO SOU ATOR. EU SOU MC DE RUA E SE DEIXAR DE SER ISSO, REPITO, NÃO EXISTIREI MAIS"
E quando você percebeu que o hip hop poderia ser o seu estilo de vida?
Naquela época não tinha o hip hop no Brasil. Os Djs eram de baile e estar numa época que não tinha nada disso foi muito dificil. Não se tinha uma perspectiva. O índice de repetência ou ausência nas escolas públicas era asustador e o hip hop até conseguiu diminuir isso. Em 1985 foi que percebi que não precisava mais levantar às quatro da manhã e andar de três a quatro quilometros para chegar no trampo. Poderia começar a viver do hip hop.
Você tem uma carreira consolidada na TV. Trabalhou na MTV, Globo, TV Cultura e agora, na Band. Qual a sua opinião sobre a representatividade do negro na televisão brasileira atualmente?
Ah, é muito bom quando vemos um negro na TV, é bem diferente do que a gente estava acostumado a ver. A necessidade de aparecer bem é tão grande que falta o espaço para a gente aparecer do jeito que tem de ser, então, acho que consigo fazer muito mais que isso. Só aparecer já não é o suficiente, devíamos ter o nosso espaço, o nosso programa de TV, o nosso programa de rádio e não fazer como se fosse um combate. O nosso direito é um direito de cidadania. Só que tem de trabalhar para isso e se preparar mais. E, nessa, eu me incluo.
No programa A Liga, da Band, você já subiu em prédios e dormiu na prisão. Quais foram os momentos mais difíceis?
O momento mais difícil eu achei que fosse o da exumação. Depois, o da cracolândia. O programa na cadeia não foi difícil, difícil foi sair de lá. O câmera queria que eu voltasse para o presídio para fazer mais uma cena de despedida. Eu me recusei porque, quando saí da cela, vi um monte de rostos olhando para mim tipo, "eu quero sair, me leva junto".
0 comentários:
Postar um comentário