"Posar para a Playboy? Eu? Não, não!", responde bem-
humorada a capitã da seleção brasileira de voleibol feminino, Fabiana
Marcelino Claudino, rindo, meio acanhada, meio divertida, com a pergunta
quase inevitável. Afinal, ao se conhecer pessoalmente a jovem atleta,
não dá para conter a curiosidade. Fabiana é, de fato, linda e exuberante
nos seus 26 anos e 1,93 de altura.
Portanto, fica difícil não se pensar nas outras chances que certamente ela teria fora das quadras do esporte que a tornou mundialmente conhecida. "Sou uma menina muito religiosa, católica. Não me sentiria bem, não é a minha cara", continua a falar, ainda risonha, a moça que nasceu e cresceu na cidade de Santa Luzia, em Minas Gerais
"O ESPORTE É O CAMINHO DOS SONHOS, DO QUAL VOCÊ NÃO PODE NUNCA DESISTIR. TEM QUE SEGUIR LUTANDO, GANHANDO OU PERDENDO"
Econômica nas palavras, mas expansiva em simpatia, Fabiana conversa com a repórter da RAÇA BRASIL enquanto coloca as últimas peças na mala antes de seguir para o aeroporto. A jogadora está hospedada na casa dos pais, em Belo Horizonte, curando-se de um forte resfriado. O voo que sairá de Confins tem como destino o Rio de Janeiro. Depois de aterrissar na cidade em que mora há anos, Fabiana seguirá para Saquarema, na região dos Lagos. Lá, no centro de treinamento da seleção brasileira, a atleta se juntará às demais jogadoras. Foram, aliás, estas mesmas "meninas" que decidiram, por voto secreto, que Fabiana deveria capitanear, na quadra, a equipe. "Eu sabia que gostavam de mim, mas confesso que fiquei surpresa com esta votação", admite, com humildade, a "meio de rede", posição que a jogadora ocupa no time, cujas funções são, simultaneamente, o ataque e o bloqueio. "Tinha ideia da confiança que depositavam em mim, mas mesmo assim não achava que seria escolhida para liderar a equipe", reafirma a atleta. Para os não familiarizados com o mundo dos esportes, vale explicar que, escolher o líder de um time é o tipo de decisão que cabe, de modo geral, aos técnicos. Em 2010, entretanto, José Roberto Guimarães, atual dirigente da seleção de vôlei feminino, resolveu mudar as regras do jogo. Com isto, Fabiana ganhou a tarja de comando que usa presa num dos braços durante os jogos. Perguntada sobre quais de suas qualidades ela acha que contaram para ser eleita a líder da seleção brasileira, Fabiana exibe humildade: "Acho que foi a alegria, o meu jeito: gosto de brincar, de me divertir. Eu brinco muito com todas as meninas dentro da quadra. Se eu puder dar este conforto, esta alegria, fico feliz. Quem deve ficar estressado é o técnico, não as jogadoras", brinca, dando um belo exemplo daquilo que, no mundo do trabalho, é considerada uma qualidade das mais elogiáveis: a "inteligência emocional". Capacidade de controlar as emoções e usá-las na dose certa em momentos de tensão, de decisões importantes. As meninas do vôlei brasileiro pensaram nisto na hora de escolher a amiga "Fabizona" - apelido da atleta - como capitã.
"EU, JÁ NA 8ª SÉRIE, NÃO CONSEGUIA
FREQUENTAR A ESCOLA TODOS OS DIAS. TAMBÉM NÃO CONSEGUI CONCLUIR NEM O
SUPLETIVO. MAS ESTUDAR É UMA COISA QUE EU GOSTARIA DE CONTINUAR"
Fabiana, com 5 anos
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É bem verdade também que a experiência conta muito na escolha de um líder. E Fabiana Claudino vem acumulando disputas de finais de campeonatos importantes há oito anos, tempo em que integra o seleto quadro de jogadoras da equipe maior do vôlei nacional feminino. Foi em 2002 que a central ingressou na seleção brasileira, com seus tenros 18 anos. A carreira de desportista havia começado cinco anos antes, em 1998, quando a filha de Seu Vidal e Dona Maria do Carmo conseguiu, com apenas treze anos de idade, uma vaga na equipe de voleibol do Clube MVR, em Minas Gerais. "Foi dali que comecei a jogar vôlei. E nem fiz teste, já que, por causa da altura, eles se interessaram logo por mim. Só pediram para eu levar a (carteira de) identidade", lembra Fabiana, que, aos 15 anos, mesmo ainda pertencendo à equipe infantil do MVR, "já entrava em quadra para treinar com as atletas adultas."
Também no caso de Fabiana, como no de todos os grandes atletas, o sucesso nas quadras cobraria um preço alto. Entre saques, cortadas, manchetes, bloqueios e levantamentos, a pré-adolescente - que ganharia, em 2009, o título de "Melhor Levantadora do Grand Prix - costumava cumprir uma árdua rotina de treinamentos diários. "Eu, já na 8ª série, não conseguia frequentar a escola todos os dias. Também não consegui concluir nem o supletivo. Mas estudar é uma coisa que eu gostaria de continuar." E que curso gostaria de fazer a capitã brasileira? "Psicologia infantil", diz Fabiana, sem titubear.
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