Provavelmente mais uma trama que armaram contra uma das vozes revolucionárias de Angola..
Por Rafael Marques de Morais para a Maka Angola:
O rapper angolano Luaty Beirão foi detido ao fim do dia 11 de Junho, no Aeroporto da Portela, em Lisboa, onde desambarcou proveniente de Luanda.
Segundo o seu produtor e amigo, Pedro Coquenão, as autoridades alfandegárias encontraram um pacote de cocaína, no pneu da sua bicicleta, que havia despachado em Luanda, forrada em plástico, para trocar em Lisboa, onde a adquiriu.
Pedro Coquenão informou que, quando o rapper recolheu a roda do tapete rolante, notou uma protuberância no pneu e a adulteração do forro de plástico. Disse ainda que o rapper nem sequer teve tempo de avaliar o que se tinha passado porque agentes locais abordaram-no imediatamente e o conduziram para interrogatório.
O produtor afirmou também que o cantor teve problemas com as autoridades migratórias em Luanda, antes de embarcar no voo da TAP TP288. Mas, como portador de dupla nacionalidade, incluindo a portuguesa, o mesmo terá conseguido embarcar.
“É tudo tão grosseiro. Calculo que nem sequer tenham alterado o peso original da roda quando o Luaty efectuou o despacho”, disse Pedro Coquenão.
Conhecido organizador de manifestações, Luaty Beirão, foi alvo de espancamentos por parte de milícias pró-regime, a 10 de Março passado, no município do Cazenga, em Luanda, onde deveria juntar-se a uma marcha de protesto contra as autoridades. Um dos membros das milícias assestou-lhe uma barra de ferro na cabeça, tendo levado seis pontos.
Desde então, fruto das ameaças que a sua família tem recebido, assim como ele próprio, o Ikonoklasta, como também é conhecido, abandonou a sua residência e vivia escondido. Poucos dias antes da sua partida, o autor visitou-o e juntos conversaram sobre a digressão que deveria efectuar em França, no Festival Internacional Rio Loco, com o seu grupo A Batida, radicado em Portugal. O artista angolano Paulo Flores e a fadista Mariza são alguns dos nomes convidados para o evento, a decorrer em Toulouse, para onde o grupo deveria embarcar na próxima sexta-feira.
Luaty também falou da sua bicicleta, um dos poucos haveres que tem e muito estima. Conhecido por circular pela cidade de bicicleta, o rapper deixou de o fazer depois dos pneus do seu meio de transporte terem sido furados várias vezes e depois, literalmente cortados. Mas, insistia em levar a Lisboa uma das rodas, que comprara na sua última viagem em Portugal, para trocá-la.
Ciente das perseguições de que tem sido alvo, o Ikonoklasta viajou sem despachar bagagem, excepto a roda.
O historial de pressão política contra Luaty Beirão já é significante. A 2 de Junho de 2011, a residência onde vivia, no Bairro Vila-Alice, em Luanda, foi invadida por um grupo de mais de 50 jovens que supostamente reclamavam pagamentos pelo seu envolvimento numa manifestação. Estranhamente, os jovens, todos desconhecidos do Luaty Beirão, faziam-se acompanhar de jornalistas estatais que reportaram a sua salvação “graças a pronta intervenção da Polícia Nacional”. Os indivíduos atiraram garrafas e vários objectos para a sua casa e, apesar da localização da 3ª Esquadra, na rua vizinha, não houve qualquer intervenção das entidades policiais para o acudir e deter os arruaceiros.
A 17 de Junho de 2011, enquanto acompanhava a sua avó ao banco, três indivíduos agrediram-no em plena luz do dia, junto à Agência Funerária São João, na zona do Alameda, em Luanda. Apesar da presença dos transeuntes e de vários seguranças, os agressores causaram-lhe ferimentos nos braços, pernas e na região lombar.
Em Setembro passado, a sua namorada foi raptada em Lisboa, na mesma altura em que ele fazia diligências públicas para a libertação dos seus companheiros presos a 3 de Setembro, durante uma manifestação contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os dois assaltantes ameaçaram violá-la e urgiram-na a aconselhar o namorado a parar com as suas actividades de protesto contra o regime em Angola. O Ikonoklasta preferiu manter silêncio sobre o caso, assim como sobre as inúmeras vezes em que o carro dela foi alvo de vandalismo, em Luanda, ao furarem os pneus e cortarem os pipos.
Em Dezembro passado, por ocasião do Natal, indivíduos desconhecidos enviaram, de presente, um urso de peluche para a sua avó, com quem vivia. Uma carta acompanhava o urso, ameaçando de morte a família, com impropérios raciais e a promessa de invasão e incêndio da casa com todos lá dentro.
Visado como um dos jovens mais influentes no movimento de protesto que tem crescido em Luanda, e causado muitas dores de cabeça às autoridades, a detenção do Mata Frakus, outro dos seus nomes artísticos, certamente causará grande celeuma.
Para além das suas actividades de protesto e o pendor crítico das suas líricas, Luaty Beirão causa irritação maior por ser filho de uma figura que já foi muito próxima de José Eduardo dos Santos. O seu falecido pai, João Beirão, foi o todo-poderoso director-geral da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), do próprio Presidente, que nos anos 90 e em parte da década seguinte, se notabilizou como um governo paralelo, com maior autoridade política que as instituições do Estado.
Por Rafael Marques de Morais para a Maka Angola:
O rapper angolano Luaty Beirão foi detido ao fim do dia 11 de Junho, no Aeroporto da Portela, em Lisboa, onde desambarcou proveniente de Luanda.
Segundo o seu produtor e amigo, Pedro Coquenão, as autoridades alfandegárias encontraram um pacote de cocaína, no pneu da sua bicicleta, que havia despachado em Luanda, forrada em plástico, para trocar em Lisboa, onde a adquiriu.
Pedro Coquenão informou que, quando o rapper recolheu a roda do tapete rolante, notou uma protuberância no pneu e a adulteração do forro de plástico. Disse ainda que o rapper nem sequer teve tempo de avaliar o que se tinha passado porque agentes locais abordaram-no imediatamente e o conduziram para interrogatório.
O produtor afirmou também que o cantor teve problemas com as autoridades migratórias em Luanda, antes de embarcar no voo da TAP TP288. Mas, como portador de dupla nacionalidade, incluindo a portuguesa, o mesmo terá conseguido embarcar.
“É tudo tão grosseiro. Calculo que nem sequer tenham alterado o peso original da roda quando o Luaty efectuou o despacho”, disse Pedro Coquenão.
Conhecido organizador de manifestações, Luaty Beirão, foi alvo de espancamentos por parte de milícias pró-regime, a 10 de Março passado, no município do Cazenga, em Luanda, onde deveria juntar-se a uma marcha de protesto contra as autoridades. Um dos membros das milícias assestou-lhe uma barra de ferro na cabeça, tendo levado seis pontos.
Desde então, fruto das ameaças que a sua família tem recebido, assim como ele próprio, o Ikonoklasta, como também é conhecido, abandonou a sua residência e vivia escondido. Poucos dias antes da sua partida, o autor visitou-o e juntos conversaram sobre a digressão que deveria efectuar em França, no Festival Internacional Rio Loco, com o seu grupo A Batida, radicado em Portugal. O artista angolano Paulo Flores e a fadista Mariza são alguns dos nomes convidados para o evento, a decorrer em Toulouse, para onde o grupo deveria embarcar na próxima sexta-feira.
Luaty também falou da sua bicicleta, um dos poucos haveres que tem e muito estima. Conhecido por circular pela cidade de bicicleta, o rapper deixou de o fazer depois dos pneus do seu meio de transporte terem sido furados várias vezes e depois, literalmente cortados. Mas, insistia em levar a Lisboa uma das rodas, que comprara na sua última viagem em Portugal, para trocá-la.
Ciente das perseguições de que tem sido alvo, o Ikonoklasta viajou sem despachar bagagem, excepto a roda.
O historial de pressão política contra Luaty Beirão já é significante. A 2 de Junho de 2011, a residência onde vivia, no Bairro Vila-Alice, em Luanda, foi invadida por um grupo de mais de 50 jovens que supostamente reclamavam pagamentos pelo seu envolvimento numa manifestação. Estranhamente, os jovens, todos desconhecidos do Luaty Beirão, faziam-se acompanhar de jornalistas estatais que reportaram a sua salvação “graças a pronta intervenção da Polícia Nacional”. Os indivíduos atiraram garrafas e vários objectos para a sua casa e, apesar da localização da 3ª Esquadra, na rua vizinha, não houve qualquer intervenção das entidades policiais para o acudir e deter os arruaceiros.
A 17 de Junho de 2011, enquanto acompanhava a sua avó ao banco, três indivíduos agrediram-no em plena luz do dia, junto à Agência Funerária São João, na zona do Alameda, em Luanda. Apesar da presença dos transeuntes e de vários seguranças, os agressores causaram-lhe ferimentos nos braços, pernas e na região lombar.
Em Setembro passado, a sua namorada foi raptada em Lisboa, na mesma altura em que ele fazia diligências públicas para a libertação dos seus companheiros presos a 3 de Setembro, durante uma manifestação contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os dois assaltantes ameaçaram violá-la e urgiram-na a aconselhar o namorado a parar com as suas actividades de protesto contra o regime em Angola. O Ikonoklasta preferiu manter silêncio sobre o caso, assim como sobre as inúmeras vezes em que o carro dela foi alvo de vandalismo, em Luanda, ao furarem os pneus e cortarem os pipos.
Em Dezembro passado, por ocasião do Natal, indivíduos desconhecidos enviaram, de presente, um urso de peluche para a sua avó, com quem vivia. Uma carta acompanhava o urso, ameaçando de morte a família, com impropérios raciais e a promessa de invasão e incêndio da casa com todos lá dentro.
Visado como um dos jovens mais influentes no movimento de protesto que tem crescido em Luanda, e causado muitas dores de cabeça às autoridades, a detenção do Mata Frakus, outro dos seus nomes artísticos, certamente causará grande celeuma.
Para além das suas actividades de protesto e o pendor crítico das suas líricas, Luaty Beirão causa irritação maior por ser filho de uma figura que já foi muito próxima de José Eduardo dos Santos. O seu falecido pai, João Beirão, foi o todo-poderoso director-geral da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), do próprio Presidente, que nos anos 90 e em parte da década seguinte, se notabilizou como um governo paralelo, com maior autoridade política que as instituições do Estado.
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